11 de março de 2010

Melodia sentimental

Era uma noite fria e calma. Me sentia sufocado com um aperto que havia em minha garganta e me roubava o ar. O tempo passava lentamente e eu não via a hora de sair daquele quarto de hotel. Coloquei um casaco, me calcei, peguei as chaves e os cigarros.
A rua estava ainda mais vazia que o quarto e o silêncio só era interrompido de tempo em tempo quando passava um carro. Comecei a andar para o lado mais iluminado, fechando os olhos para sentir melhor o vento felado que cortava meus lábios e a maça do rosto. Vasculhei no volso grande do casaco o maço de cigarro e com grande dificuldade o acendi. Dei uma longa tragada...como era bom sentir novamente algo que não fosse um enorme vazio no peito. A fumaça me esquentou.
Resolvi então, dar uma volta na quadra. Quando virava a esquina, esbarrei em um casal. Não deu outra: os pensamentos voltaram a tona. Será que ela ainda me amava? Já era hora de pedir desculpas e voltar pra casa? Eu não queria pensar naquilo, doía, como se uma faca cega estivesse me contando aos poucos por dentro.
Tentando me concentrar em outra coisa, dobrando mais uma esquina, comecei a fumar um novo cigarro. Subia agora uma ladeira um pouco mais movimentada. Não sabia se meu pulmão aguentaria, mas segui em frente. Avistei um homem parado num canto, em pé. Segurava algo nos braços. Uma melodia conhecida começou a afagar meus ouvidos...Era delicada e suave. Apressei o passo e chegando mais perto entendi: um violino.
O homem se vestia elegantemente, usava um chapéu coco e tinha bigode. Me aproximei e sentei no meio fio. Sem nem notar minha presença, por algum tempo, ele tocou repetidamente aquela canção. Quando parou, guardou rapidamente o instrumento e andando jeitosamente, sumiu nas sombras da noite escura. E pela primeira vez em longos dias, o tempo passou depressa.

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